Manuel Joaquim Ourives da Silva, Soldado
'Comando', n.º 14878970, da 29ªCCmds
|
HONRA
E GLÓRIA
e
nota de óbito |
Informação do óbito prestada pelo veterano Bernardino
Martins
Outros
elementos cedidos por um colaborador do portal UTW |
Faleceu no dia 1 de
Março de 2012, em Évora, o veterano
Manuel Joaquim
Ourives da Silva
Soldado 'Comando',
n.º 14878970
Centro de Instrução de Comandos
«A SORTE PROTEGE OS AUDAZES»
Região Militar de Angola
«CONSTANTE E FIEL» - «AO DURO SACRIFÍCIO
SE OFERECE»
19.º Curso de Comandos
Angola: 17Ago a 30Nov1970
29.ª Companhia de
Comandos
«ÁGUIAS NEGRAS»
«A SORTE PROTEGE OS
AUDAZES»
Moçambique: 21Dez1970
a Nov1972
Cruz de Guerra,
colectiva, de 1.ª classe
Manuel Joaquim
Ourives da Silva, Soldado ‘Comando’, n.º 14878970.
Em 26 de Janeiro de 1970 assentou praça no Centro de Instrução e
Condução Auto 3 (CICA3 - Elvas);
Fez a recruta, mas foi reprovado no exame de condução, por isso, dois ou
três meses depois, fez nova recruta no Batalhão de Caçadores 8 (BC8 –
Elvas) «DISTINTOS VÓS SEREIS NA LUSA HISTÓRIA COM OS LOUROS QUE COLHESTE
NA VITÓRIA»;
Em 29 de Junho de 1970, foi colocado no Centro de Instrução de Operações
Especiais (CIOE – Lamego) «QUE OS MUITOS, POR SEREM POUCOS, NÃO
TEMAMOS»;
Em 25 de Julho de 1970, tendo sido mobilizado pelo Centro de Instrução
de Operações Especiais (CIOE – Lamego) «QUE OS MUITOS, POR SEREM POUCOS,
NÃO TEMAMOS», embarca em Lisboa no NTT ‘Vera Cruz’
rumo ao porto de
Luanda, onde desembarcou no dia 2 de Agosto de 1970;
Em 17 de Agosto de 1970 inicia no Centro de Instrução de Comandos (CIC -
Luanda) «A SORTE PROTEGE OS AUDAZES» da Região Militar de Angola (RMA)
«CONSTANTE E FIEL» - «AO DURO SACRIFÍCIO
SE OFERECE» o 19.º curso de
comandos;
Em 30 de Novembro de 1970 conclui o curso de
comandos e é qualificado
com a especialidade 959 -Comandos;
Em 4 de Dezembro de 1970, integrado na 29.ª Companhia de Comandos
(29ªCCmds) «ÁGUIAS NEGRAS», embarca em Luanda no NTT 'Niassa' rumo a
Porto Amélia, a fim de servir Portugal na Província Ultramarina de
Moçambique;
Em 13 de Janeiro de 1971 a sua companhia inicia em
Cabo Delgado a
actividade operacional;
Em Novembro de 1972 regressa à Metrópole por via aérea (TAM Boeing-707).
Faleceu no dia 1 de Março de 2012 em Évora e as cerimónias fúnebres
tiveram lugar na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Bairro do Bacelo,
daquela cidade alentejana;
No dia 2 de Março de 2012, pelas 16H00, os seus restos mortais foram
cremados no Centro Funerário e Crematório de Elvas. Após a cremação, as
cinzas foram depositadas no Alto de São Bento, em Évora;
O seu nome faz parte da toponímia da cidade de Évora com a designação:
“Praceta Manuel Joaquim Ourives da Silva“ (7005-145 Évora);
Agraciado com a
Medalha da Cruz de Guerra, colectiva, de 1.ª
classe, conforme Aviso (extracto) n.º 7723/2014, publicado no
Diário da República, n.º 127/2014, Série II, de 4 de Julho de 2014.
Paz à sua Alma
----------------------------------------------------
Fonte:
Revista "Domingo" do Correio
da Manhã
28 de Fevereiro de 2010
"A arma do inimigo encravou
e fiquei vivo"
Na recruta, chumbou no exame
de condução, mas conseguiu
vingar nos comandos. Não
estava era preparado para
encarar com um guerrilheiro.
28 de Fevereiro de 2010 às
00:00
Silva segue com o seu grupo
para combate ao lado do
furriel Morais [em primeiro
plano]
Regressei sem mazelas – mas
tive muita sorte porque
ainda cheguei a ver a luz
branca ao fundo do túnel. Só
não morri porque a arma do
inimigo encravou. Já na fase
final da minha comissão,
fomos a um aldeamento em
Vila Coutinho. Deixámos
comida para um velhote e ao
atravessar um rio ficámos
debaixo de fogo. Os
tiroteios, ao contrário do
que muitos camaradas dizem,
nunca duravam muito tempo:
apenas uns escassos minutos.
Quando havia fogo
deitávamo-nos no chão em
defesa e imediatamente
preparávamos o ataque.
Bastava um gritar ‘Vamos a
eles’ que nós avançávamos a
correr em direcção ao
inimigo. Mas dessa vez vi um
guerrilheiro a um ou dois
metros a apontar-me a arma.
Não estava preparado para
esse encontro. A minha arma
encravou quando vou para
disparar e a dele também.
Deitei-me no chão e atirei
uma granada para cima do
inimigo. Ela rebentou, fui
ao local mas não havia lá
ninguém.
Assentei praça em 26 de
Janeiro de 1970, no Centro
de Instrução de Condução
Auto (CICA) do Regimento de
Infantaria 8, em Elvas. Fiz
a recruta e chumbei no exame
de condução. Ao fim de dois
ou três meses, fui fazer
nova recruta no Batalhão de
Caçadores nº 8, na mesma
cidade. O aspirante engraçou
comigo e nesse período,
cerca de dois meses, fazia
apenas ginástica e saltos de
viatura em andamento. Nunca
cheguei a ir para as semanas
de campo.
No final da recruta surgiu a
oportunidade de me inscrever
nos Comandos e lá fui para
Lamego, no dia 29 de Junho
de 1970, formar um batalhão,
que embarcou para um curso
em Angola a 25 de Julho
desse mesmo ano. Não me
esqueço desta data, porque o
Salazar morreu dois dias
depois e no navio ‘Vera
Cruz’ foi posta a bandeira a
meia-haste no dia 27. Quando
cheguei a Angola, no dia 4
de Agosto de 1970, saímos do
barco e fomos para o
Grafanil, em Luanda. Em
poucas horas, levámos uma
série de injecções e fomos
sujeitos a uma bateria de
exames.
Poucos dias depois partíamos
para Belo Horizonte e
iniciámos o curso de
Comandos, que durou cerca de
três meses e meio. Foi aí
que tivemos o primeiro
contacto com um cenário de
guerra. Abalei de Angola no
dia 4 de Dezembro de 1970 e
fui para Moçambique,
integrando a mesma companhia
de Comandos, onde me
instalei em Montepuez. Era
uma zona pacífica, nunca
tivemos problemas.
A primeira operação foi em
Cabo Delgado, precisamente
em Antadora. Os guerreiros
da Frelimo (Frente de
Libertação de Moçambique)
atacaram a companhia. Um dos
nossos camaradas ficou
ferido e teve de ser
evacuado, posteriormente,
para Lisboa.
Como em todas as companhias
de Comandos, havia cinco
grupos, todos chefiados pelo
capitão Baptista Morais,
hoje coronel na reforma.
Cada grupo era formado por
cinco equipas de cinco
homens. Cada equipa era
depois comandada por um
furriel.
Ao fim de dois meses em
combate, tínhamos direito a
um mês de descanso na Ilha
de Moçambique. Fazíamos
limpezas e zelávamos pela
segurança da Fortaleza de
São Sebastião. Mas também
íamos à praia e comíamos bom
camarão, todo ele dado aos
militares.
Mas houve uma vez, em Junho
de 1971, que fomos chamados
ao fim de três dias de
descanso. Havia duas
companhias pára-quedistas
que estavam encurraladas num
vale em Nangololo, uma zona
de muita guerra. A guerrilha
da Frelimo estava a
cercá-los e bombardeava a
zona para não os deixar
sair. A nossa companhia
tinha por missão tirar de lá
os nossos camaradas, e
conseguimos. Circulámos os
morros, fizemos um cerco aos
guerrilheiros e obrigámos o
inimigo a fugir.
A minha companhia regressou
a Portugal de avião sem uma
única baixa em combate.
Apenas faleceu um soldado,
vítima de um acidente quando
manuseava uma granada dentro
da caserna em Montepuez,
Moçambique. Além desta
morte, causou ainda vários
ferimentos a um outro
camarada que ficou sem uma
vista e um braço. Estava por
perto e ouvi o estrondo.
Acorri ao local mas já não
havia nada a fazer.
O meu último dia de tropa
foi a 7 de Dezembro de 1972.
Regressei a Évora e tentei
ingressar na Polícia e nos
Correios. Surgiu a
oportunidade nesta última
empresa e por lá fiquei até
me reformar. Nunca tivera
problemas relacionados com o
‘stress’ de guerra até
agora. A minha mulher diz
que sonho com o conflito
armado. Certo é que agora,
de duas em duas horas, estou
a acordar durante a noite.
Dantes isso não acontecia.
Aos meus camaradas, ‘MAMA
SUME!’.
VIDA DEDICADA AOS COMANDOS:
Quando acabou a comissão em
Moçambique, Manuel da Silva
casou com a sua namorada,
Ermelinda Pássaro, com quem
teve três filhos. Hoje já é
avô de seis netos. Viveu
sempre em Évora e trabalhou
nos Correios até se
reformar, há seis anos.
Apesar da dedicação ao
trabalho, Manuel nunca
deixou de participar nas
actividades dos Comandos. A
sua paixão por esta tropa de
elite levou-o a fundar a
Associação de Comandos de
Évora. Hoje tem 80
associados e um programa
anual de encontros-convívio
e provas piscatórias. Manuel
está agora a desenvolver
uma biblioteca na sede.
PERFIL
Nome: Manuel Joaquim Ourives
da Silva
Comissões: Moçambique
(1970/72)
Força: 29.ª Companhia de
Comandos
Actualidade: Tem 60 anos e
reside em Évora
|