António Maria Nobre, Soldado de
Infantaria, n.º 01678065
"Pouco se fala hoje
em dia nestas coisas mas é bom que para
preservação do nosso orgulho como Portugueses,
elas não se esqueçam"
Barata da Silva, Vice-Comodoro
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HONRA E GLÓRIA
e
nota de
óbito |
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Faleceu no dia 16 de Janeiro de 2024,
na freguesia de Ermidas do Sado, concelho de Santiago do
Cacém, o
veterano
António Maria Nobre
Soldado de Infantaria, n.º 01678065
Companhia de Caçadores 1560
«LEOPARDOS»
Batalhão de Caçadores 1891
«LEAIS E
VALOROSOS»
Moçambique:
21Mai1966 a 16Ago1968
Duas Cruzes de Guerra
de 1.ª e 3.ª classes
Dois Louvores
Individuais

“As cruzes
de guerra têm estado numa gaveta”
In revista
'Domingo' do 'Correio da Manhã'. de 06Mai2018
“As cruzes de guerra têm estado numa
gaveta”
As portarias louvam a coragem em
combate. Mesmo ferido ajudei e mal refeito ofereci-me
como voluntário.
Fernanda Cachão
6 de Maio de 2018 às 12:31

"A 10 de junho de 1969 fui de Ermidas do Sado, onde
nasci e ainda vivo, ao Terreiro do Paço, em Lisboa, para
receber duas cruzes de guerra. Na minha comissão em
Moçambique fui ferido por três vezes. Ficou escrito nas
portarias de fevereiro e agosto de 1968 que, integrado
num grupo quase exclusivamente de alentejanos, as
merecia por ter demonstrado "elevadas qualidades
militares", "coragem em combate, sangue-frio, serena
determinação e energia debaixo de fogo, espírito de
sacrifício e elevado moral frente ao inimigo".
Eu era o soldado de Infantaria nº 01678065 na Companhia
de Caçadores 1560, os ‘Leopardos’, comandada pelo
capitão de Infan-taria António Augusto da Costa
Campinas, que foi colocada em Gilé de maio de 1966 a
janeiro de 1967, onde fazíamos principalmente
patrulhamentos e ação educativa e medicamentosa junto da
população. Mas depois, entre janeiro de 1967 e fevereiro
de 1968, efetuámos operações como ‘Alcides’ (vale do rio
Messinge), ‘Segunda Vez’ (região da Base Liconchire),
‘Sobe-Sobe’ (serra Juzagombe), ‘Alferes Ambar’ (região
da Base Liconchire) e ‘Crepúsculo’ (entre os rios
Messinge, Nossi e Luavize); entre muitas outras.
Na transcrição da portaria publicada na OE nº 25 - 3ª
série, de 1968, sobre a minha Cruz de Guerra de 1ª
classe pode ler--se que tive um magnífico comportamento
nas operações ‘Quatro Camaradas’ e ‘Sobe-Sobe’. "Na
primeira - escrevem - conduziu-se com extraordinária
bravura, espírito de sacrifício e de missão durante o
violento combate de cerca de hora e meia, travado com
numeroso e bem armado grupo inimigo, sempre ao lado do
comandante do Grupo de Combate, agindo como apontador de
lança-granadas foguete e expondo-se constantemente ao
fogo adverso (...)". E frisam que, apesar de gravemente
ferido logo no início do assalto, continuei "a fazer
fogo com o seu lança-granadas foguete, apoiando, assim,
com eficiência, a progressão das nossas tropas".
Ajudei, ainda, os camaradas feridos, até à chegada do
helicóptero que os evacuou em primeiro lugar e mal eu
próprio saí do hospital, onde também recebi tratamento,
ofereci-me como voluntário, embora não tivesse sido
aceite por não estar totalmente restabelecido.
Já a Cruz de Guerra, de 3ª classe, foi quando eu, na
operação ‘Ou Vai ou Racha’, mesmo depois de atingido por
um estilhaço numa coxa e debaixo de intenso fogo
inimigo, ainda disparei sozinho por quatro vezes o LGFog
"sobre a principal posição inimiga, silenciando-a".
Escreve-se: "Apesar de ser ele o ferido mais grave pediu
para só ser socorrido em último lugar, tendo feito
voluntariamente a pé o percurso de vários quilómetros
até ao local onde se encontravam as viaturas, para que o
seu comandante de Secção, também ferido, pudesse
utilizar a única maca então disponível."
Por graça, não posso ainda deixar de lembrar um episódio
caricato com a Polícia Militar, ocorrido mesmo antes do
embarque, em frente do Hotel Portugal, na Baixa de
Nampula, quando passeávamos alguns da 1560. Quando
passou um jipe da Polícia Militar, alguém do nosso grupo
gritou: "Adeus, ó Chekas" (nome dado aos
recém--chegados). De imediato, eles correram para nós.
Receando complicações antes do regresso à metrópole,
todos debandaram menos eu, por ter a consciência
tranquila mas também por estar ainda coxo devido ao meu
último ferimento em combate. Foi então que vi vir o
cabo, exaltado, direito a mim… Agarrou-me pelo
colarinho, puxou-me e eu desequilibrei-me e bati ‘sem
querer’ com a minha testa no nariz dele, pelo menos
assim o expliquei posteriormente, embora nem todos
tenham acreditado na história - alguns dos graduados da
CCAÇ 1560 presentes tiveram de evitar a gargalhada.
As cruzes de guerra têm estado numa gaveta mas, no
último dia 29, coloquei-as ao peito, quando fui
homenageado na minha terra".
Nome
António Maria Nobre
Comissão
Moçambique, 1966-1968
Força
Companhia de Caçadores 1560 ‘Leopardos’
+ Info Padeiro Nasceu e vive em ermidas do sado. Tem 74
anos e três filhas