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Informação de um colaborador do portal UTW

in revista "Domingo" do "Correio da Manhã", de 18Mar2012

 

António Almeida Marques

“Morte de um companheiro de luta é triste”

No aquartelamento não houve ataques, mas nos grupos que saíram para o mato houve baixas. Vinte e sete meses que nunca esquecerei.

Passei por diversos quartéis militares (Viseu, Leiria, Trafaria, quartel-general do Porto e Chaves) até chegar o momento da minha mobilização para Moçambique. Como era operador criptográfico, pensei: "vai ser uma comissão em beleza, sem grandes riscos, defendendo como outros camaradas a nossa Pátria".

Quando chegou o dia da partida, a 2 de Julho de 1971, embarquei no paquete Infante D. Henrique com destino a Moçambique. Íamos 30 militares; os restantes passageiros eram civis. Depois de várias paragens no Funchal, Luanda, Lobito e Cidade do Cabo, que visitámos, chegámos a Lourenço Marques, quinze dias mais tarde. Uma cidade linda de gente acolhedora.

A verdade é que este ‘sonho’ real durou pouco - trinta dias depois fui para o Norte. Ia com destino a Nampula, mas acabei por ser desviado para Tete, mais propriamente para Marara. Aqui estava sediado o Esquadrão de Cavalaria 3 que dava cobertura às colunas civis que levavam material para a barragem Cahora Bassa.

Encontrei um ambiente pesado no início, o comandante que lá estava era amigo de uma garrafa de scotch por dia, diziam, mas foi mais tarde substituído por um capitão cinco estrelas, o nosso conhecido Tozé Martinho [actor], que fez um trabalho notável, tanto com os militares como com os civis.

Havia muita gente boa, camaradas que ficarão para sempre na minha memória e não esquecerei. O Figueiredo e o Rodrigues são dois deles, mas muitos, tantos outros, me marcaram para a vida. Eles sabem disso.

PERDER UM AMIGO

Tal como todos os militares tive férias que gozei trabalhando na barragem Cahora-Bassa, como fiscal de explosivo. Quando voltei para Marara, soube que na minha ausência tinha havido uma recepção desastrosa aos novatos que nos iam substituir: uma simulação que os levou a agarrar nas armas e que foi um pandemónio. Daí resultaram uma vítima mortal e alguns feridos. No aquartelamento não houve ataques, mas em grupos de militares que saíam para o mato tivemos algumas baixas. Quando morreu o Carlos, um amigo jovem, grande companheiro de luta, foi muito triste.

Um dia recebi a mensagem de transferência para o Nampula. Nesta cidade militarizada mas com bom ambiente civil, conheci a família do Furriel Pires Teixeira, principalmente a sua mãe D. Elvira, a senhora mais simpática que conheci, sendo o seu marido um jornalista de renome, o senhor Pires Teixeira, representante do ‘Notícias da Beira’ e da revista ‘O Tempo’.

Como trabalhava 24 horas seguidas no quartel-general de Nampula, descansava 72, tempo que dava para colaborar no citado jornal. Graças a isso visitei a Ilha de Moçambique, Chocas, Guro, Lumbo, e outras praias virgens.

Em Outubro de 1973, depois de vinte e sete meses no meu querido Moçambique, que ainda hoje recordo, regressei a casa, aos amigos e familiares, com a sensação do dever cumprido. Tinha já muitas saudades do que tinha deixado para trás, em Portugal, lembranças que enquanto estive na guerra sempre me acompanharam. Hoje só tenho pena de que a nossa juventude não dê valor aos ex-combatentes, que deram a vida em prol duma causa, que naquele tempo longínquo era e é conhecida por patriotismo.

PERFIL

Nome: António Almeida Marques

Comissão: Moçambique (1971-1973)

Força: Esquadrão de Cavalaria 3

Actualidade: 63 anos. Bancário, mora em Espinho. Tem um filho

 

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