MOÇAMBIQUE
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sites próprios

J. Antero Ferreira
Joaquim
Antero Ferreira, Furriel Mil.º, mobilizado pelo
Batalhão de Caçadores 10 (Chaves), para servir
na província ultramarina portuguesa de
Moçambique integrado na Companhia de Caçadores
2321 «OS PIONEIROS DA SERRA DO MAPÉ» do Batalhão
de Caçadores 2837, no período de 1968 a
1970
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um dos sublinhados que se seguem:
«G - 3» - "AMOR À PRIMEIRA
VISTA" - 1.ª Parte
«G - 3» - "AMOR À PRIMEIRA
VISTA" - 2.ª Parte
"O Despertar de Memórias"
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«G - 3» - "AMOR À PRIMEIRA
VISTA" - 1.ª Parte
Foi-me
"apresentada" em 3 de Janeiro de 1967, nas Caldas da
Rainha - R.I. - 5. Havia "outras," mas, após três meses
de "namoro", foi esta que me foi " prometida" em
"casamento". Decorridos cerca de 14 meses, foi marcado o
dia, já esperado, para o "casório", lá longe, lá muito
longe, dos locais onde "namorámos". Após um "cruzeiro"
de vinte e tal dias, a bordo do Vera Cruz, foi consumado
o acto, em Porto Amélia - Moçambique - inícios de 1968.
Os "convidados" eram muitos, todos vestidos da mesma
maneira (coisa esquisita num "casamento") e,
curiosamente, também eles estavam todos acompanhados
pelas "irmãs gémeas" da minha futura "companheira". A
"Boda" foi rápida e a "Ementa" frugal (rações de combate
tipo E nº 30) e as bebidas, desconhecidas até então,
resumiram-se a algumas grades de cerveja "Laurentina" e
" 2 - m."
Findo
o "repasto", lá partimos em "Lua de Mel" e, mais uma
vez, para surpresa minha, não íamos sós!...todos os
"convidados" fizeram questão em nos acompanhar!... Pouco
à vontade lá nos acomodamos numa viatura, "fretada para
o efeito", com bancos corridos, na qual passámos toda a
noite. Eu sentado e "ela" ao meu colo, dado a exiguidade
do espaço. Escusado será dizer que, dado a falta de
privacidade, na nossa "primeira noite", não fomos além
de algumas "carícias", "verificações de circunstância"
e, como era evidente, proceder à sua "alimentação",
dotando-a daquilo que ela mais gostava, 1 carregador com
20 "unidades".
Madrugada cedo, com o sol a despontar pela imensa
vegetação luxuriante, no fim da "estrada" de terra
vermelha, rodeada de "erva alta", lá chegámos ao nosso
destino, - Macomia. Aldeia grande, com muita gente de
cor escura, e mais amigos à nossa espera, todos eles,
vestidos da mesma maneira (era moda naqueles locais)
que, sem eu perceber muito bem porquê, nos prestaram uma
recepção calorosa, gritando a plenos pulmões!.
"chegaram os Checas... chegaram os Checas"!...
Algum tempo depois, já mais habituados um ao outro, lá
partimos com destino a outro local - Monte das Oliveiras
- onde passámos a conviver em "regímen" de "casamento
consumado". Passámos a dormir juntos, bem encorpadinhos
um ao outro, tendo-a sempre junte a mim, qualquer que
fosse o sítio para onde fosse.
Pela minha parte, sempre a tratei bem. Andava com ela ao
ombro, quase sempre a segurava com ambas as mãos e,
mesmo quando me sentava, era sobre as minhas pernas que
a colocava...
Por
sua vez, ela também o merecia: era discreta, humilde,
pouco vaidosa e o único "adorno" que usava era uma
correia de lona!..
Só mais tarde, decorridos poucos meses, quando de novo
"mudámos de casa" e fomos "viver" para a Serra do Mapé é
que a passei a conhecer melhor. Era "fria"e "indiferente",
como o aço de que era
feita...rapidamente se apoderou dela a raiva, a
frustração, a dor a impotência e o desespero. É que, ali
bem perto, as escassos metros de distância, quase sempre
e durante uma "eternidade" de meses, havia "outra", sua
rival, um pouco mais pequena, já muito conhecida, e que
dava pelo nome de "Kalash". Era como ela , fria,
indiferente, trazia consigo a morte e a destruição,
batia-se de igual para igual, fazia-lhe frente, não
tinha piedade, vomitava ferro e fogo, rugia
estrondosamente, fumegava por tudo quanto era sítio e,
no final da refrega, os resultados eram invariavelmente
os mesmos de sempre - a terra, já de si vermelha, ficava
ainda mais vermelha...
Por fim, compreendi
melhor a minha "companheira": "NOS
MOMENTOS DA VERDADE",
mostrou bem os seus
"dotes" e, sem sentimentos de qualquer espécie, lá
correspondeu ao que eu esperava dela...
"Defendeu-me
quando eu era atacado"
"Matou, para eu
viver"
Vinte e seis meses,
depois acabámos por nos separar.
J. Antero Ferreira
Porto
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G-3 e Kalash

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«G - 3» - "AMOR À PRIMEIRA
VISTA" - 2.ª Parte
... Trinta e muitos anos depois, da nossa separação, de
quando em vez, ainda a vejo. Embora, aparentemente seja
a mesma, está muito diferente. Está mais "madura",
também ela "evoluiu politicamente", tem "novos
companheiros" e, imagine-se, até fez novas amizades
entre as mulheres!.. que, sendo semelhantes aos seus
pares, só as consegue distinguir pelos penteados.
Tal como antigamente, também os "novos companheiros"
usam camuflados. São mais lustrosos, adornados com
lenços garridos e de várias tonalidades - Brancos,
Azuis, Amarelos e até mesmo vermelhos - e usam boinas de
várias cores...
"Segredou-me", num fugaz olhar de cumplicidade - «
tenho viajado muito, desde que nos separamos - regressei
a Timor, passei pelos Balcãs, fui para o Afeganistão e,
mais recentemente, para o Líbano. Agora "sou mais
democrata" - "já não faço a Guerra", dado que os
"ditames" da política são outros » ! ...
«
Já não "estamos
orgulhosamente sós",
fazemos parte de uma comunidade e, como tal, as missões
dos "novos companheiros", já não são as da "obrigação
de lutar pela Pátria",
são missões em regime de voluntariado, duram, em média,
seis meses, já não comem rações de combate, estão bem
aquartelados, têm televisão, internet, telemóveis e
outra "modernices" e, para "meu espanto" até têm "tempo
de antena" nas televisões. Ganham bem, recebem
frequentemente visitas de "altas personalidades" (que se
deslocam propositadamente aos longínquos locais, onde me
encontro, só para me verem e cumprimentarem os "novos
companheiros"» ...
Tanto quanto me apercebo, a minha "ex-companheira", está
muito mais calma, dificilmente se confronta com as suas
"rivais", raramente é utilizada para os fins para os
quais foi criada, tendo, como tarefa principal, a função
de "dissuasão".
Ironia do destino - foi concebida para fazer a
Guerra...agora, contribui para fazer a Paz!...
Fico feliz, por mim e por ela.
J. Antero Ferreira
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"O
Despertar de Memórias"

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