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Moçambique

MOÇAMBIQUE - IMAGENS - Cedidas por ex-Combatentes ou em sites próprios

 

 Guiao do BCac2837
JAntero FerreiraJ. Antero Ferreira

 

Joaquim Antero Ferreira, Furriel Mil.º, mobilizado pelo Batalhão de Caçadores 10 (Chaves), para servir na província ultramarina portuguesa de Moçambique integrado na Companhia de Caçadores 2321 «OS PIONEIROS DA SERRA DO MAPÉ» do Batalhão de Caçadores 2837,  no período de 1968 a 1970

 

 

 

“Para que não se perca a memória”

 

Embora trazer ao conhecimento público, 30 e tal  anos depois, alguns acontecimentos dramáticos da Guerra  nas Ex-Províncias Ultramarinas, pareça ser tarefa condenada, no mínimo, à indiferença, sabido que a memória dos homens (dos que  lá  não estiveram) é curta, corro esse risco, até porque, tais acontecimentos não se perderão na nossa memória, como, bem pelo contrário, permanecerão indeléveis, enquanto formos vivos.

 

Deixo, pois, aqui relatados, não 26 meses de permanência em terras do Norte de Moçambique, mas, principalmente, cerca de 9 meses, “vividos” na Serra do Mapé, algures no distrito de Cabo Delgado (lá para os lados das “Terras Sagradas” da etnia Maconde), designadas, à data, pelos “entendidos” nas lides da guerra, por “Terra de Ninguém”.

 

 ... Eram cento e poucos “bons rapazes”, quase todos eles oriundos das belas terras transmontanas, trabalhadores braçais, na sua maioria, ignorantes em política, como quase todos nós, “Doutores” em amizade, “Irmãos” em camaradagem, resumindo, como era  uso dizer-se, “carne para canhão”. Pioneiros que foram na “conquista” da Serra “acomodaram-se”, em vésperas de um Natal, em 4 buracos escavados no chão, com as próprias mãos e os parcos meios de que dispunham.

 

Em cada um desses buracos, amontoaram-se uma trintena de homens, armas, munições e pouco mais, para além das inseparáveis e “amistosas” rações de combate e algumas grades de cerveja.

 

Rodeados de algum arame farpado e de umas “trincheiras”, feitas à pressa, com a selva a 50  metros, estavam  “prontos e determinados” a defender aquele “pedaço de Portugal” (pouco maior que um campo de futebol) ironicamente chamado “Pousada da Serra do Mapé”.

 

Bastaram cerca de 2 semanas, após a “tomada do objectivo”, para que, num já esperado raiar do sol, toda a serra “acordasse”, estrondosamente, ao som das morteiradas, das bazucadas das canhonadas e do sibilar das incontáveis “7.62” disparadas pelas sobejamente conhecidas armas de assalto, as “KALASH”, entre outras.

 

Bastou a “eternidade” de duas horas, para que 7 dos “bons rapazes”, os tais que bebiam cerveja e comiam as rações de combate (por nada mais haver, a não ser o capim), deixassem de o fazer para sempre, enquanto outros, mais de uma dezena e meia (comigo incluído), algumas horas depois, conseguissem ser evacuados para o “hospital” de Mueda, com graves ferimentos e mutilações para o resto da vida.

 

Quarenta e dois meses ao serviço da Pátria, vinte e seis deles, na Ex-Província de Moçambique, e,  “PARA QUE NÃO SE PERCA A MEMÓRIA”, tiveram, para mim, como “Prémio” (já que parte deles não tiveram a mesma sorte), 28 dias de hospitalização, dezena e meia de estilhaços de granada, RPG,  incrustados, para sempre, no corpo, além do braço com que vos escrevo, trespassado por uma “7,62”...

 

Mas, “animem-se” eventuais leitores interessados nestas coisas, nem tudo foi assim “tão dramático”!, também houve “prémios de consolação” - Cruzes de Guerra, Medalhas de Mérito e de Prata, etc.-: alguns, a título póstumo (muitos), por “Feitos Heróicos e Sangue Frio”, frente ao inimigo - leia-se, agora , PALOP’S. 

 

J. Antero Ferreira

 

 

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