MOÇAMBIQUE - Imagens cedidas
por
Francisco Mota Dores

Francisco Mota
Dores |
Francisco Mota Dores, ex- Furriel Mil.º
Companhia de Caçadores
3554
Batalhão de Caçadores 3886
Moçambique
Mecumbura
- Nura – Milange
1972
a 1974 |
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Versos de Fernando Martins da C. CAÇ. 3554
SEM SAUDOSISMO
O que ides ler, são
alguns versos feitos a “quente“ pelo nosso amigo
Fernando Martins, depois de alguns acontecimentos por
nós vividos no “palco de guerra”, que nos
marcaram profundamente e que o Martins retratou em
poesia, de uma maneira simples e sentida.
Teve alguma
relutância em aceder na sua divulgação, pela modéstia
que o caracteriza.
Podemos agora
partilhar e também recordar momentos de muita angústia e
desespero que na altura se apoderou de todos nós.
Em nome da 3554
Obrigado Martins
Chegada - Emboscada
na Picada - Mina no
Auto-Tanque
Ataque dos
morros das machambas -
Mina com abatiz
armadilhado -
Milange
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CHEGADA
Na
Beira quinze dias
Foram férias em beleza
Mas acabaram-se as
alegrias
E veio logo a
tristeza.
Tínhamos que vir
lutar
Não ficamos na cidade
Acabou-se o passear
E foi-se a
felicidade.
Dez dias demorou
A viagem até chegar
Muita coisa se passou
Muito tempo pra
contar.
Passámos por povoados
Onde nada aconteceu
Passámos em muito
lado
E turras ninguém os
viu.
Já ìamos no nono dia
Quando fomos
emboscados
Ainda ninguém sabia
O que era sermos
atacados.
Felizmente reagimos
Como nos ensinaram
Ao perigo não fugimos
Foram os turras que
se piraram.
25 de Julho de 1972
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Emboscada na Picada
Foi a vinte e seis de
Agosto
Que o desastre
aconteceu
Foi o primeiro
desgosto
Pois um soldado
morreu.
Mais quatro ficaram
feridos
Para este dia não
esquecer
Porque os turras bem
escondidos
Obrigaram a combater.
Choviam as
morteiradas
Como se fosse uma
brincadeira
E até as próprias
rajadas
Levantaram a poeira.
Os nossos bravos
coitados
Defendiam-se como
podiam
Mas por todos os
lados
As morteiradas caíam.
Mas por fim tudo
voltou
À mesma normalidade
E então logo se
tratou
Dos feridos com
gravidade.
Quatro tiveram que
ser
Na altura evacuados
Um acabava de morrer
Já não precisava de
cuidados.
Assim acabou o dia
Foi de imensa
tristeza
Quando ele parecia
Ter nascido em
beleza.
Mecumbura, 26 de
Agosto de 1972
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Mina no Auto-Tanque
Matou um feriu três
Uma mina que rebentou
Foi a primeira vez
Que isto aqui se
passou.
Estava lá colocada
Para um carro a pisar
Bem metida na picada
Seu destino era
matar.
Quatro carros ainda
passaram
E nada lhes sucedeu
Tiveram sorte não a
pisaram
Mas no quinto
aconteceu.
Mandou com ele ao ar
Apesar de grande peso
E acabou por tombar
Sobre o soldado
Tereso.
Os outros foram
cuspidos
E foi menor o seu mal
Ficaram apenas
feridos
E foram pró hospital.
O inseparável
companheiro
Do soldado que
faleceu
Era um macaco
matreiro
Que no desastre
também morreu.
Picada, 9 de Setembro
de 1972
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Ataque dos
morros das machambas
Estavamos acampados
E calmo tudo parecia
Mas fomos atacados
Quando ainda
escurecia.
O barulho que se fez
Era ameaçador
Afinal desta vez
Era um ataque maior.
Mas tivemos muita
sorte
Em nada nos acertar
E foi assim que a
morte
Não nos veio visitar.
Picada, 21 de
Setembro de 1972
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Mina com abatiz
armadilhado
Mais uma mina na
picada
Desta vez
anti-pessoal
Mas depois de
rebentar
Ainda causou o seu
mal.
Foi esta a segunda
vez
Que uma rebentou
E
desta vez foram três
Os feridos que
causou.
Martins, Pires
e Faqueiro
Certamente não vão
esquecer
Este dia que foi o
primeiro
Em que estiveram
quase a morrer.
Aqui picada, 25 de
Setembro de 1972
(O autor é o Martins, desta última quadra)
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MILANGE
Ao
forasteiro que vier de longe
Vou tentar
descrever-te
Vila pequena
Mas que não é má
Só uma coisa faz pena
Em vez de Vinho, há
Chá.
Das chuvas
torrenciais
E dos buracos a mais
Onde não há alcatrão
As moças, fruto
proibido
São material
escondido
Só as há de
importação.
Vê
se arranjas mais mulheres
É só o que a malta
quer
Que o resto há de
sobra
Eu penso que é falta
de material
Ou se não levam a mal
Isto é falta de Mão
de Obra.
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