O livro:
"Enfermeiras Pára-Quedistas"
1961 - 2002

título: "Enfermeiras Pára-Quedistas: 1961-2002"
autor: Luís A. M. Grão
editor: Prefácio
1ªed. Lisboa, 23Mai2006
169 págs (ilustrado)
24x17 cm
pvp: 18 €
ISBN: 972-8816-90-1
Apresentação (contra-capa):
- «A presença de mulheres prestando serviço de
enfermagem na frente de combate, é uma prática
relativamente recente. Foi Florence Nightingale durante
a 'Guerra da Crimeia' (1854-55) quem organizou, pela
primeira vez, um serviço hospitalar de enfermagem para
tratamento dos feridos do exército britânico.
Anos mais tarde, a França criou um Corpo de enfermeiras
pára-quedistas, que teve acção humanitária de relevo
durante as operações de combate que o seu país travou na
Indochina e na Argélia.
Em Portugal e contrariando todas as previsões, o Dr.
Oliveira Salazar autorizou, em 1961, a constituição de
um Quadro de Enfermeiras pára-quedistas, destinadas
especialmente a prestar serviços da sua especialidade,
aos militares em operações no Ultramar Português:
durante 13 anos (1961-74), são ministrados 12 cursos e
formadas 47 enfermeiras pára-quedistas.
Quando em 2002 foi extinto o Quadro, ficou o exemplo de
abnegação, coragem e competência dado por este pequeno
grupo de mulheres, que inscreveram na História das
Forças Armadas Portuguesas algumas das suas páginas mais
ilustres e dignificantes.»
Índice:
Nota
prévia
Prefácio (Isabel Bandeira de Mello 'Rilvas')
Depoimento (Maria Ivone Quintino dos Reis)
Testemunho (general Kaulza Oliveira de Arriaga)
Primeiro Capítulo - Guerra e Medicina:
A assistência sanitária em campanha;
A mulher na enfermagem;
As Damas-Enfermeiras portuguesas.
Segundo Capítulo - Enfermeiras Pára-quedistas:
A origem;
As enfermeiras do Ar Portuguesas.
Anexos:
Fardamentos e distintivos;
Condecorações;
In memoriam;
Páginas de poesia;
Recortes de imprensa;
Listagem de efectivos;
Glossário de abreviaturas
Suporte documental
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Dado
à estampa em 2006 pela Prefácio Editora, este livro da
autoria de Luís Grão que serviu de comemoração do 50.º
aniversário da criação das Tropas Pára-Quedistas
Portuguesas.
A criação das tropas pára-quedistas portuguesas e a sua
integração na Força Aérea deve-se ao General Kaúlza de
Arriaga que na sua qualidade de Subsecretário de Estado
da Aeronáutica criou o quadro de enfermeiras
pára-quedistas para a assistência dos feridos e casos de
urgência nos meios de evacuação e como refere o General
Kaúlza de Arriaga “o comportamento irrepreensível e os
grandes e excelentes serviços que as enfermeiras
pára-quedistas foram prestando, nas guerras de África, a
favor do Exército, da Armada, da Força Aérea e de Civis,
todos rapidamente convenceram e conquistaram. Foi a
confirmação do sucesso. (p. 27)
A ideia da formação do Corpo de Enfermeiras
Pára-Quedistas em Portugal dá-se em 1956, quando a
Senhora D. Isabel Bandeira de Mello (Rilvas), foi a
primeira mulher portuguesa a saltar de pára-quedas. Um
dos sonhos desta pára-quedista era a criação de um Corpo
de médicos e enfermeiras pára-quedistas e tentou junto
de do general Kaúlza de Arriaga o apoio deste para a
concretização do seu sonho, o que levou Kaúlza a
reunir-se com Salazar para a apresentação do projecto
que ao fim de duas reuniões, Salazar assinou a
legislação proposta pelo Subsecretário da Aeronáutica.
Foram contactadas as escolas de enfermagem de todo o
país incluindo as religiosas, especialmente a Escola de
Enfermagem Franciscana Missionárias de Maria de onde
sairiam dez enfermeiras voluntárias e uma da Escola de
S. Vicente de Paulo para o 1.º Curso de Enfermeiras
Pára-Quedistas de entre os doze Cursos decorridos entre
1961 e 1974.
A 23 de Agosto de 1961 apresentam-se no Comando da 2.ª
Região Aérea, em Luanda, em trânsito para o Destacamento
Avançado das Tropas Pára-Quedistas (Luanda), as alferes
enfermeiras pára-quedistas Maria Arminda e Maria Ivone
que iriam tomar parte na Operação Canda.
O Curso de Enfermeiras Pára-Quedistas tem o seu fim no
ano da desgraça de 1974 e última missão de serviço
deu-se em Agosto e Setembro de 1976 na participação de
evacuação de civis da província ultramarina de Timor
para Lisboa.
A sentença de morte é dada pelo Decreto-Lei n.º 309/80
de 19 de Agosto que determina a extinção do
pára-quedismo militar e o Conselho da Revolução viria a
decretar a extinção total em 17 de Julho de 1980 com a
promulgação e ordem de publicação, datada de 5 de Agosto
e assinada pelo então Presidente da República, Ramalho
Eanes.
Assim, deu-se a transição do pessoal militar permanente
privativo do Corpo de Tropas Pára-Quedistas e mais tarde
viria a ser extinta para ser criado o Comando das Tropas
Aerotransportadas e da Brigada Aérea Independente.
Durante os treze anos, de 1961 a 1974 foram ministrados
12 cursos de enfermeira pára-quedistas, frequentados por
126 candidatas, das quais 47 conseguem alcançar as suas
asas de pára-quedistas, embora só 46 tenham ingressado
no quadro orgânico.
Com a excepção de duas enfermeiras todas as restantes
foram empenhadas em inúmeras missões em zonas
operacionais de combate.
Sofreram e lutaram bravamente, como valentes soldados
que eram, empunhando como armas apenas as que a medicina
lhes confiava.
Há a destacar a trágica morte, na Guiné, da Furriel
Graduada Enfermeira Maria Celeste Ferreira da Costa ao
ser atingida pela hélice de um Dornier 27, quando se
preparava para embarcar e a Furriel Graduada Enfermeira
Maria Cristina Justino da Silva, ferida em combate na
região de Mueda, em Moçambique, em missão de evacuação
de feridos em combate.
Estas senhoras eram as fadas dos soldados, os
anjos caídos do céu e as heroínas que têm
direito a lugar de Honra na memória dos socorridos e da
Pátria que tanto e sempre honraram.
in:
http://nonas-nonas.blogspot.com/2008/07/livro-enfermeiras-pra-quedistas-1961.html
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in "O
Ribeira de Pera", de 31JUL2007,
de
Beja Santos
A
partir de 1956, as tropas pára-quedistas portuguesas
marcaram presença em Portugal, na Guerra de África no
longínquo Timor e mesmo nos países balcânicos. Em 1961,
Kaúlza de Arriaga leva o Governo a criar no âmbito do
Batalhão de Caçadores de Pára-quedistas, o quadro de
enfermeiras, que vão participar no auxílio a quem sofre,
vestidas de uniforme camuflado. É essa a história que se
conta em “Enfermeiras Pára-quedistas, 1961-2002” (por
Luís A. M. Girão, Prefácio, 2007).
A
Força Aérea, em Março de 1961, desafiou enfermeiras
voluntárias, já experientes, para prestarem assistência
a feridos/doentes, evacuados por via aérea nas zonas de
combate em Angola. Houve adesão imediata de 11
candidatas nas quais 6 alcançaram o respectivo brevê,
sendo 5 delas antigas enfermeiras da Escola de
Enfermagem Franciscanas Missionárias de Maria e uma da
Escola de Enfermagem de S. Vicente de Paulo. Foi nesta
escola, teria eu 9,10 anos que assisti a uma festa de
Natal em que participava a minha irmã como aluna ao lado
da sua amiga Maria Arminda Lopes Pereira. Com o passar
dos anos, antes, durante e depois de eu ter ido à guerra
na Guiné, perguntava invariavelmente à minha irmã: “Tens
sabido por onde anda a Arminda, a nossa pára-quedista?”
Este corpo de enfermeiras pára-quedistas era uma
completa originalidade em Portugal, não havia tradição e
cedo se revelaram transponíveis as dificuldades de
encontrar candidatas com a qualificação necessária. O
autor aproveita esta oportunidade para fazer um breve
relato do historial da assistência sanitária em
campanha, da presença da mulher na enfermagem e refere o
aparecimento das enfermeiras pára-quedistas em França.
Quanto à preparação, as candidatas tinham que ter treino
no solo, treino no avião e praticar saltos de
manutenção. No caso português, para serem admitidas no
curso de formação as candidatas deviam ter idade
compreendida entre os 18 e os 30 anos e serem solteiras
e viúvas sem filhos Em Maio de 61, definia-se o quadro
de pessoal de enfermeiras, constituído por um tenente, 5
alferes e 5 sargentos, logo alterado no ano seguinte
para 3 tenentes 9 alferes e 9 sargentos. De acordo com a
legislação portuguesa as missões e a dependência das
enfermeiras pára-quedistas estavam definidas em Junho de
61 da seguinte maneira. Quanto às missões, deviam ser a
prestação de assistência e enfermagem em locais de
grande aglomeração de feridos e doentes, em hospitais
militares e até mesmo em hospitais civis e noutras
missões. Quanto à dependência, os enfermeiros
equiparados a militares pára-quedistas ficavam
subordinados ao regimento de caçadores pára-quedistas ou
ao batalhões de caçadores pára-quedistas nº 21 ou 31.
Não foi pacífico, no seio das Forças Armadas, o
aparecimento de mulheres com patente oficial e sargento,
tais os preconceitos da época. No caso das tropas
pára-quedistas, após alguma curiosidade inicial, o facto
foi aceite com alguma naturalidade. À cautela, saiu uma
ordem de serviço recordando que o pessoal feminino com
graduação militar prestava e tinha direito às honras e
saudações militares correspondentes aos seus postos.
Em Agosto de 61, duas enfermeiras partiram para Angola,
actuando em zonas de combate, em inúmeras missões de
acompanhamento de feridos e doentes evacuados de África
para Lisboa. As enfermeiras foram plenamente aceites,
alvo de respeito e carinho, o autor cita testemunhos de
jornalistas acerca da solicitude por elas demonstrada.
Os boletins militares da época saudavam as “digníssimas
enfermeiras pára-quedistas”, exteriorizando o orgulho
que sentiam na sua colaboração e missão. Estas
enfermeiras estiveram presentes nas missões de evacuação
dos militares portugueses aprisionados pela União
Indiana, em 1961 e 62, tendo recebido louvores pelo seu
espírito de sacrifício e devoção.
O
autor enuncia os cursos subsequentes, a partir de 1962.
Em 73, é publicada a legislação que vai permitir a
continuação do aproveitamento do pessoal de enfermagem
nas organizações com carácter hospitalar da Força Aérea,
mesmo quando perdesse esta qualificação. O ano de 1974
marcou o termo dos cursos de pára-quedismo destinado a
enfermeiras, com a descolonização. Em 1975, as
enfermeiras pára-quedistas regressaram a Portugal e
foram nomeadas para desempenhar funções em serviços de
saúde da Força Aérea. Mas em Agosto e Setembro de 76,
estas enfermeiras tiveram a sua última missão,
participando em acções de evacuação de civis, de Timor
para Lisboa. Em 1980, é publicada a legislação que
determina a extinção progressiva do quadro de pessoal
especializado em pára-quedismo equiparada a militar. Os
oficiais e sargentos graduados enfermeiros
pára-quedistas em serviço efectivo podiam, desde que o
requeressem, transitar para a categoria de pessoal
militar permanente. Em Janeiro de 94, abria-se um novo
capítulo para as tropas pára-quedistas portuguesas,
extinguindo-se o corpo de tropas pára-quedistas e
criando-se, no exército, o Comando das Tropas
Aerotransportadas e a Brigada Aerotransportada
Permanente.
Estas enfermeiras estiveram nas frentes de combate com
desvelo, como tantos feridos e sinistrados recordam. Uma
perdeu a vida, numa lamentável sinistro. Outra ficou
marcada por uma bala traiçoeira.
Foram boinas verdes abnegadas, cuja coragem foi escrita
nalgumas das páginas mais ilustres e dignificantes das
nossas Forças Armadas.
Por:
Beja Santos