Texto
in: "«ULTRAMAR»... Pequenas histórias
por contar..."
… da carne de caça e do pescado, tudo conseguido
pelos indígenas em moldes tradicionais e
artesanais … Para o algodão, café, chá, sisal e,
em parte, o caju existiam mercados próprios,
devidamente esquematizados e organizados, com a
obrigação, por motivos óbvios, do seu cultivo
atingir áreas cada vez maiores,
recorrendo-se
para o efeito, por altura das respectivas «safras»,
aos tais denominados «voluntários da corda»
…
As cantinas eram, assim, espécies de «entrepostos
comerciais», mas de uma maneira geral quando
os naturais para lá levavam os seus produtos, a
fim de serem comercializados, já se encontravam
mais do que pagos! E isto porque os cantineiros,
pelo menos aos indivíduos que lhes ofereciam
mais confiança, iam fiando alguns dos bens
essenciais necessários, para o seu dia-a-dia,
pelo que na ocasião das colheitas já nada havia
a receber em troca … Aquilo que acontecia, por
norma, era apenas uma amortização aos «calotes»
acumulados!... Sinal evidente de assimetrias e
pobreza numa estrutura económica e social sem
bases, em territórios extraordinariamente ricos,
onde a vida poderia ser bem diferente para
todos…
Atendendo, porém, às vicissitudes por que tudo
foi passando, poderá continuar a dizer-se e com
uma certa razão aparente que, mal por mal, mais
valeria ter-se mantido a situação acabada de
resumir do que aquela em que se encontra hoje
mergulhada aquela martirizada gente! Todavia, na
perspectiva desta pequena história as coisas não
poderão colocar-se de forma tão simples e
linear! Existem, obviamente, reentrâncias e
picos comportamentais que nunca por nunca ser
poderão ser apagados do painel real que então se
vivia em Portugal e nas suas ex-colónias…
A situação calamitosa e degradante em que
principalmente angolanos e moçambicanos estão
metidos hoje em dia é, sem dúvida, uma das
consequências da descolonização possível!... Mas
para se ser livre. Para se ser independente.
Para se atingir a maioridade, têm que se
enfrentar e ultrapassar muitos obstáculos e
passar por um sem número de convulsões…
Diga-se, porém, em abono da verdade, que as
cantinas e os cantineiros, apesar de tudo o que
por lá ocorria…, poderão considerar-se, nas
condições vigentes da altura, elementos úteis na
orgânica económico-geográfica dos territórios de
além-mar.
Claro que os indígenas eram enganados! Disso
ninguém tem dúvida. É um dado adquirido,
intrínseco e comum a todas as pessoas, com raras
execepções, que se encontram atrás de um balcão,
…
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ÍNDICE
-
Prefácio
-
A primeira viagem
-
Nampula há mais de
trés décadas
-
A República dos «passa-fome»
-
O garrafão
eclipsou-se
-
Evidentemente!
-
Uma sessão de
propaganda
-
As baratas
-
Emissões de rádio
-
Roubaram-lhe uma
mulher!
-
A Talaca atacou
-
O Eusébio
-
Deslocação para o
simuco
-
O «Santa Maria»
-
O «Aranhão»
-
O elefante e a sua
ferocidade
-
Gratidão
-
Um regresso à
metrópole
-
O grafanil
-
Já podemos ir
dormir a casa!
-
Abnegação e
coragem
-
Os pirilampos
-
O homem do
monóculo
-
O doutor Quintas
-
A couraça
-
O alto valor da
correspondência
-
Tiros á toa
-
Uma intoxicação
-
O jornal «Topando»
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