Elementos cedidos por um colaborador
do portal UTW
José Luís Leiria Pinto
Contra-Almirante
José Luís Ferreira Leiria Pinto, nasceu a
11Jan1940 em Lisboa.
Oficial da Armada, cumpriu três comissões de serviço
ultramarino: a primeira no norte de Angola, em 1963-64,
como 2Tn na fragata 'NRP-Diogo Gomes'; a segunda na
Guiné, em Jan66-Nov67, sendo 1Tn FZE comandante do DFE6,
condecorado em 10Jun68 com uma Cruz de Guerra de 2ª
classe por feitos em combate; e a terceira em Timor,
colocado em Díli em Set73-Ago75, sendo CTn FZE
comandante do ComDefMarT e capitão dos portos de Timor.
Actualmente, contra-almirante na situação de reforma.
O livro:
"Recordações de
um Marinheiro: Timor 1973-1975"
título: "Recordações de um Marinheiro:
Timor 1973-1975"
autor: José Luís Leiria Pinto
editor: Comissão Cultural de Marinha
1ªed. Lisboa, Out2012
61 págs (ilustrado com fotos e mapas)
24x16,7cm
pvp: 7,5 €
aquisição: Loja do Museu de Marinha
Para visualização do
conteúdo clique no sublinhado que se segue:
Entrevista
in: "O Desembarque", n.º 16, de Jul2013
Apresentação do
livro:
– «O Contra-almirante Leiria Pinto considerou
a sua comissão dividida em diversos períodos:
O primeiro destes inicia-se com a sua chegada ao
território, para desempenhar as funções de Comandante da
Defesa Marítima, de Chefe da Repartição Provincial dos
Serviços de Marinha e por inerência Capitão dos Portos
de Timor, de Presidente da Comissão Administrativa do
Serviço de Transportes Marítimos e de Presidente da
Junta Autónoma do Porto de Díli. Define o fim deste
primeiro período, e consequentemente o início do
seguinte, coincidente com a revolução de 25 de Abril de
1974. Esta primeira fase caracteriza-se por um estado de
calma permanente, desempenhando a Marinha tarefas de
apoio logístico às populações ribeirinhas. De realçar o
importante papel desempenhado pela Estação Radionaval de
Díli, no apoio às comunicações com Lisboa, dos navios
portugueses que circulavam no Índico.
O segundo momento começa com a revolução portuguesa e
prolonga-se até Agosto de 1975. Merece especial destaque
a criação de diferentes forças políticas no território.
Algumas delas definem-se como marxistas, o que leva a
uma reacção por parte da Indonésia, que não vê com bons
olhos a possibilidade de instauração de um regime
político tão radical num espaço que fazia fronteira com
uma possessão indonésia. Por esse motivo, o estado de
tensão vai crescendo no território, com a Indonésia a
ameaçar invadir o mesmo.
Em Agosto de 1975 a situação tornou-se insustentável,
com confrontos entre as diferentes facções timorenses e
com influência indonésia nestes conflitos. Em finais do
mês foi necessário deslocar o pessoal de Marinha para
Ataúro, de onde se processou a evacuação para Portugal.
O autor desempenhou a parte final da sua comissão
embarcado na corveta 'Afonso Cerqueira', por já não
existirem condições para permanecer no terreno.
Ao longo da obra, o Almirante Leiria Pinto tece rasgados
elogios a todo o pessoal de Marinha que serviu sob as
suas ordens e destaca o papel fundamental da Estação
Radionaval de Díli, como peça fundamental nas
comunicações entre aquela parcela do território
português e os centros de decisão no Portugal
Continental.»
(in
http://ccultural.marinha.pt )
Sinopse:
- «Trata-se de um relato circunstanciado e
presencial sobre os últimos dias do Timor português,
vivido intensamente pelo autor, que como afirma no
intróito foi «o único oficial chegado antes do 25 de
Abril de 1974 a estar presente na ilha de Atauro após a
saída do Governador de Díli».
Com um prefácio do Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias,
Presidente da Academia de Marinha, o livro vem dividido
em três capítulos com um intróito.
Depois de uma síntese histórica, geográfica e
sociológica sobre a então Província de Timor, o autor de
uma forma muito depurada, cingindo-se aos factos, divide
os acontecimentos em três períodos: "Da chegada a Timor
ao 25 de Abril de 1974"; "Do 25 de Abril de 1974 a
inícios de Agosto de 1975"; "De 11 a 26 de Agosto – os
últimos dias em Díli"; este último com uma
calendarização ao dia e à hora.
Nota-se a formação académica do autor – licenciado em
História – no rigor da apresentação, não deixando sempre
que oportuno, de emitir o seu julgamento pessoal sobre
acontecimentos, personalidades e decisões que os
quarenta anos decorridos se encarregaram de expurgar da
forte emotividade vivida no dramatismo da ocasião.
Comandando uma pequena força de 29 elementos da Armada,
com um oficial subalterno e nove sargentos, são narradas
as actividades deste grupo, minoritário entre os três
ramos das Forças Armadas presentes no território, cujo
papel relevante e crucial, não aparece na maior parte
dos relatos sobre o assunto.
Conforme nos diz o autor: «Depois de comissões em Angola
na 'Diogo Gomes' e na Guiné comandando o DFE nº 6,
encontrava-me acompanhado da família com pessoal europeu
competente e disciplinado, e indígena na maioria com
muitos anos de serviço cumpridor e dedicado. Enfim uma
terceira comissão no ultramar que prometia ficar com
óptimas recordações apesar da limitação de recursos
materiais de toda a ordem».
No decurso dos próximos capítulos, vai verificar-se como
estas "óptimas recordações" se vieram a transformar num
pesadelo trágico, com o processo de autodeterminação
iniciado no pós 25 de Abril e que muito rapidamente
descambou no aparecimento de forças políticas que
substituíram a confrontação ideológica pelo argumento
das armas.
As tentativas de neutralidade da autoridade portuguesa,
levaram a uma permissividade interpretada pelos partidos
emergentes, como incapacidade e consequente subversão da
ordem vigente.
Nos finais de 1974 era já patente a partidarização das
forças militares locais do SMO, com perturbações na
hierarquia do Exército.
Mantinha-se a Armada disciplinada e cumprindo as suas
missões.
Por todo o ano de 75 se foram multiplicando os
incidentes, com um angustiante silêncio do poder central
que menorizou a situação. Havia chegado um contingente
de pouco mais de 60 pára-quedistas, dois Allouette-III e
escasso pessoal de voo e manutenção, passando desde
então a coexistir no território os três ramos das FA.
Em 3 de Agosto a UDT inicia a luta armada e ocupa os
pontos vitais de Díli.
Graças à reacção pronta do Comandante das Forças da
Marinha, é respeitada a Estação Rádio Naval de Díli, que
se torna o único contacto da Província com o exterior.
Por todo o mês de Agosto, sendo a narrativa
pormenorizada à hora e dia, assiste-se ao início de uma
guerra civil e ao colapso da autoridade portuguesa com a
zona portuária transformada em campo de refugiados.
Toda a marinhagem nativa desaparece e a partir de então,
todo o esforço dos meios da Marinha fica suportado pelos
escassos europeus, já com um ferido grave.
A Estação Rádio Naval foi o local em que foi pela última
vez arreada a Bandeira Nacional: 20,15 horas de 26 de
Agosto de 1975!
Seguem-se as descrições pormenorizadas da retirada para
Ataúro e uma deslocalização do autor a Kupang, onde o
governador local, seu conhecido, utilizou uma metáfora
para clarificar a posição indonésia perante o conflito
no território oriental da ilha: «Quando o nosso vizinho
sai de casa e deixa o gaz aberto, para nossa própria
segurança temos de lá ir fechá-lo».
Foram.
Documentado com mapas e fotografias alusivas aos locais
e acontecimentos, o livro prestigia as Edições Culturais
de Marinha. Constitui na verdade um documento histórico,
quase um relatório, exaustivo, relevante e indispensável
para todos os que queiram conhecer os últimos dias do
Timor português e o papel desempenhado e quase sempre
omitido dos poucos homens da Armada que viveram aqueles
dias.
Recomenda-se a sua leitura.»
(Rui Abreu, contra-almirante médico naval reformado)